CAIU NA REDE É PEIXE?: A CAPILARIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS VIRTUAIS E O CARDUME DAS FAKE NEWS
- Profa Rayssa Vasconcelos
- 28 de nov. de 2021
- 14 min de leitura
Rayssa Hellena Almeida de Vasconcelos[1]
Francisco Ytalo de Lima Silva[2]
Geraldo de Azevedo Nóbrega[3]
Romário de Barros gomes[4]
Celso Lobo (2016)
INTRODUÇÃO
O presente estudo emergiu como atividade avaliativa parcial semestral da disciplina Movimentos Sociais, Cidadanias Interculturais e Identidades, ministrada pelos docentes: Maurício Antunes, Moisés Melo e Wagner Lira, no Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades – PPGECI, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e Fundação Joaquim Nabuco – Fundaj. Desse modo, seguimos a temática orientada pelos professores, denominada por eles de Movimentos Sociais Virtuais, como ponto de partida e reflexão para a construção de nosso trabalho.
Por conseguinte, os debates e as reflexões teóricas durante as aulas, foram de fundamental importância para fundamentarmos nossa pesquisa. A imersão introdutória nos debates históricos, políticos e sociais dos movimentos sociais e suas diversas facetas, a partir dos estudos de Gohn (2000, 2011), Serra Junior (2013), Silva & Ruskowski (2016), Korybko (2018), Sales (2018), Silva (2020), entre outros(as), foram essenciais para delimitarmos a investigação e seus direcionamentos. Para nós, um desafio e tanto abordar a temática, tendo em vista, as nossas limitações teóricas, mesmo assim, conseguimos trabalhar sobre a inserção e expansão da utilização das redes sociais virtuais pelos movimentos sociais, que em muito tem contribuído direta e indiretamente no envolvimento de diferentes sujeitos, sobretudo, na diversificação de mobilizações e ativismos on-line.
Ressaltamos que não é de nosso interesse discutir sobre os benefícios e malefícios da internet e suas ferramentas para os movimentos sociais e/ou políticos, mas sim compreender a capilarização[5] dos movimentos sociais virtuais no período de 2013 a 2021, no Brasil. Além disso, investigar as diferenciações entre os conceitos de militância e ativismo; pesquisar a expansão das redes sociais e sua capilaridade junto aos movimentos sociais; e analisar os impactos das Fake News frente aos movimentos sociais virtuais.
Compreendemos que, à expansão e a diversificação das redes sociais virtuais tem contribuído bastante na mobilização de pessoas para lutarem por seus direitos ou causas que beneficiam outros grupos marginalizados, subalternizados e explorados. Ademais, tais instrumentos tem redirecionado as lutas travadas em torno da garantia de direitos e pressionado governos e instituições de diferentes modos.
As pesquisas que abordaram anteriormente sobre a temática em discussão, além de reconhecer a importância, as limitações e os desafios, partem do pressuposto que o ativismo através destes instrumentos proporcionados pelas novas tecnologias, são extensões potentes do que já acontece nos espaços físicos de atuação do movimentos sociais, como a ocupação de prédios públicos e privados, realização de assembleias, atos de ruas, confrontos direto com as autoridades, entre outras formas de reivindicação.
Embora, a luta corpo a corpo, continue sendo muito importante, não podemos negar as potencialidades e o quanto os movimentos sociais virtuais tem ocupado as diversas ferramentas digitais, inclusive modificando e direcionando muitas pautas em nível global, como as questões envolvendo o meio-ambiente, a violação de direitos humanos, entre outras. O espaço da web, também tem permitido que diversas celebridades possam se utilizar deste meio e de sua influência, para discutir temas pertinentes a sociedade em nível local e global, por exemplo, os direitos das mulheres, denúncia contra a violência de gênero, exploração sexual, trabalho infantil, racismo, e muito mais.
Portanto, a partir dos pressupostos acima, discorremos sobre os conceitos de militância e ativismo, ressaltando a importância destas práticas sem confundi-las ou utilizá-los como sinônimos uma da outra. Também discutiremos sobre os impactos que as fakes news tem causado na sociedade, sobretudo, na atuação dos movimentos sociais que lutam pela conquista e manutenção de direitos consagrados nos instrumentos legais (leis, decretos, estatutos). Ademais, a delimitação do espaço-temporal da pesquisa (2013-2021), justifica-se por ser justamente neste intervalo, que tivemos a expansão e a diversificação das tecnologias, que permitiram uma comunicação mais rápida e em tempo real, sobretudo, nas mobilizações[6] e manifestações de ruas ocorridas a partir do ano de 2013, no Brasil.
Por fim, destacamos que o estudo está divido em quatro tópicos, o primeiro trata sobre a metodologia da pesquisa, o segundo sobre a apresentação da pesquisa bibliográfica qualitativa sobre os conceitos de militância, ativismo, o terceiro discute versa as Fakes News e o quarto refere-se aos resultados dos questionários que aplicamos através da ferramenta Google Formulários, sobre ativismo virtual e o comportamento das/os respondentes diante de notícias falsas. No mais, concluímos o artigo com as considerações finais, onde retomamos alguns pontos elencados durante o texto, destacando algumas percepções e reflexões.
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa possui um design metodológico que se constitui da seguinte maneira: Primeiro, realizamos um levantamento bibliográfico na SciELO e no Google Acadêmico, tendo como descritores os seguintes termos: Ativismo; Militância; Movimentos sociais virtuais; Movimentos Sociais, Fake News e Democracia. Os artigos encontrados passaram por uma leitura rápida e em seguida selecionamos para uma leitura e análise mais aprofundada os trabalhos que mais se aproximavam de nossos objetivos.
Quanto a segunda, optamos por construir uma pesquisa exploratória e descritiva, onde construímos um sistema de coleta de dados por amostragem, ou survey, que assegura melhor representatividade e permite generalização para uma população mais ampla (GÜNTHER, 2003, p. 2), a fim de discutir melhor a questão Fake News e movimentos sociais virtuais. Tendo em vista a impossibilidade de aplicação de questionários de forma presencial, devido aos cuidados com a Covid-19, construímos um questionários através do Google Formulários, com 15 questões, divididas em 5 secções. A pesquisa online foi encaminhada através das nossas redes sociais particulares (whatsapp e instagram), no período de 25 de outubro ao dia 4 de novembro, com a ideia de conseguir o máximo de respostas possíveis durante sua circulação. Para a elaboração do questionário nos orientamos pelos estudos de Günther (2003), Gil (2007) e Richardscn (2015).
Os materiais coletados foram abordados e analisados quanti e qualitativamente, a partir das reflexões de Marli André (2013). Para essa autora a abordagem qualitativa de pesquisa se fundamenta “numa perspectiva que concebe o conhecimento como um processo socialmente construído pelos sujeitos nas suas interações cotidianas, enquanto atuam na realidade, transformando-a e sendo por ela transformados” (ANDRÉ, 2013 p. 97).
3.1. MILITÂNCIA E ATIVISMO: DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES ENTRE CONCEITOS
Ao nos debruçarmos sobre os estudos que abordam sobre os movimentos sociais e seus agentes, nos deparamos com algumas reflexões que julgamos importante. Primeiramente, permitir a compreensão e os entendimentos das diferentes formas de atuação na sociedade, para reivindicar direitos ou mesmo à sua supressão. Desse modo, nos vemos impelidos(as) a discutir sobre as diferenciações entre os conceitos de militância e ativismo, muitas vezes encarados como sinônimos, adjetivos ou mesmo substantivos, o fato é que ambos, carregam conotações diferentes.
De acordo com André Sales, Flávio Fontes e Silvio Yasui (2018), a militância está mais ligada a uma prática hierarquizada e a um comportamento mais duradouro em torno de uma causa; já o ativismo se caracteriza por relações mais horizontais e sem muita durabilidade, podendo se envolver em diversas causas de forma rápida e pontual. Todavia, o ponto principal de diferenciação são as relações estabelecidas de hierarquia e horizontalidade, que envolve tais práticas.
Ainda segundo eles, em levantamento realizado em 2016, na SciELO[7], demonstrou-se que o termo militância aparece nos artigos encontrados ora como adjetivo ora como substantivo. Outra questão pertinente discutida é a naturalização do termo, afastando-o de uma construção cultural e social. Diante dessas reflexões, propõem a definição de militância como sendo “uma metodologia para produzir ações coletivas a fim de intervir, ou interferir, nas normas sociais vigentes” (SALES, FONTES, YASUI, 2018, p. 568).
Como todo espaço de construção social e coletiva, os movimentos sociais, não estão livres de conflitos de interesses, sejam pessoais ou coletivos. É justamente a confrontação que abre oportunidades para outras reflexões, que não seriam possíveis dentro de uma estrutura de consenso. Diante do exposto, questionamos, e quem não aceita se comportar dentro dos preceitos hierárquicos da militância, o que acontece? Parece paradoxal a questão, mas é bastante comum a transgressão e a consumação de práticas preconceituosas e discriminativas no interior dos movimentos. Ações estas divergentes da atuação ou caracterização das organizações, grupos e coletivos que buscam atuarem como fomentadores do respeito às diferenças, sejam sexuais, religiosas, raciais, étnicas, afetivas, geracionais, de gênero, classe, entre outras. Ademais, não podemos esquecer que vivemos dentro de uma estrutura capitalista de sociedade que investe também na desvirtuação das organizações políticas e sociais que batem de frente com seu modus operandi. Sua perpetuação depende sobretudo, da iniquidade das massas, que sem muitos questionamentos devem aceitar a vida miserável que levam, em troca de uma redenção futura ou pós-morte. Ou seja, toda crítica é válida, desde que esteja compromissada em descortinar a violência exercida sobre as massas, seja nos excessos revolucionários ou na forma de concentração capitalista.
Por isso, a discussão travada por Sales, Fontes e Yasui (2018) sobre os conceitos de militância e ativismo, chama atenção para as conotações que cada um engloba e seus diferentes usos, contribuindo, sobretudo, no direcionamento de nosso trabalho, no que tange a compreensão do que seja ou que características carrega o sujeito militante.
No mais, é importante enfatizar que o trabalho deles também reflete sobre como os Novos Movimentos Sociais (NMS) buscaram na formulação de suas designações se afastarem das definições e modos organizativos, dos antigos movimentos sociais, articulados e ligados diretamente às ações dos partidos políticos e dos sindicatos. Essas ligações institucionais faziam com que eles mantivessem uma estrutura centralizada e hierarquizada. Enquanto, os novos movimentos buscavam uma postura mais descentralizada e com relações mais horizontais.
Quanto às tecnologias e seus usos, concordamos com o professor José Machado, quando defende que a interação virtual provocada pela internet e as tecnologias “não apenas se tornaram instrumentos de fundamental importância para a organização e articulação de tais coletivos sociais, como também proporcionaram a formação de novos movimentos sociais e novas formas de ativismo”. (MACHADO, 2007, p. 248-9. Grifos do autor)
A possibilidade de comunicação rápida, barata e de grande alcance faz atualmente da Internet o principal instrumento de articulação e comunicação das organizações da sociedade civil, movimentos sociais e grupos de cidadãos. A rede se converteu em um espaço público fundamental para o fortalecimento das demandas dos atores sociais para ampliar o alcance de suas ações e desenvolver estratégias de luta mais eficazes. (MACHADO, 2007, p. 262)
Na prática será se essa reflexão ainda continua sendo uma verdade, diante da própria desmobilização e do esvaziamento dos atos de ruas, que cada vez mais conseguem juntar menos pessoas? E muitas vezes quando juntam-se, as pautas são tantas que não conseguem se quer articula-las?
É necessário refletirmos sobre o militantismo virtual e até mesmo sobre o significado de escrever e publicar na rede. Não duvidamos das boas intenções de quem quer que seja, mas chamamos a atenção para o autoengano que cometemos ao supervalorizar o meio eletrônico enquanto instrumento de militância. Desvinculada da realidade, isto é, dos movimentos sociais concretos, a militância virtual pode até alimentar o nosso ego, apaziguar nossas consciências e gerar a ilusão de que convertermos os convertidos. (SILVA, 2003, n.p.)
Apesar de diversos autores defenderem a internet e seus meios como um aglutinador e mobilizador de pessoas para reivindicarem seus direitos ou pautas que digam respeito a determinados grupos (SILVA, 2003; PEREIRA, 2011; SILVA & RUSKOWSKI, 2016) esses organismos (grupos, coletivos, organizações e instituições) que atuam virtualmente ganham capilaridade quando vinculados a movimentos sociais que atuam fisicamente nos espaços públicos, fazendo ocupações, atos de ruas, entre outras ações. Outro ponto, é que não devemos enxergar a atividade virtual/online como substituição, mas como uma complementariedade ou extensão do que se processa nas ruas. Para Marcus Pereira (2011, p. 22-3): “Apesar de um grande número de possibilidades de ação a partir da Internet, estas dificilmente irão substituir as ações presenciais. Temos na verdade a possibilidade de articulação entre ações online e presenciais”.
Por fim, corroboramos com Machado (2007, p. 274) de que a ocupação “de espaços na rede mundial pelos movimentos sociais tem contribuído para o fortalecimento das demandas sociais, ao oferecer certos tipos de organização, formas de articular ações e de se fazer política, que não existiam antes.” Além disso, não podemos perder de vista o caráter educacional dos movimentos sociais (GONH, 2011) que através das diversas ações que promovem, tanto educa seus(suas) militantes quanto a sociedade como um todo.
3.2 NOVOS ATORES E CAMPOS DE ATUAÇÃO: REDES SOCIAIS VIRTUAIS, MOBILIZAÇÕES DE GABINETE E FAKES NEWS
Frederick Burr Opper (1894)
De acordo como o sociólogo espanhol, Manuel Castells (2017), o desenvolvimento de uma “capacidade de comunicação autônoma” legitimou o surgimento de movimentos sociais que eclodiram por todo o mundo a partir de 2011. Da primavera Árabe aos protestos de junho de 2013 no Brasil, tais movimentos foram impulsionados por fatores centrais, que, diante do distanciamento entre as aspirações populares e políticas cada vez mais autocentradas permitiram a esses movimentos sociais conectar-se com os seus participantes e a sociedade como um todo pela nova mídia social.
Essa autonomia da comunicação somente foi possível graças à natureza aberta e descentralizada da Internet. Destaca-se que, uma vez conectado à rede mundial de computadores, qualquer pessoa pode se manifestar, sem a necessidade ou a dependência de intermediários. Por isso, as redes sociais viabilizaram a expressão de vozes e interesses que não encontravam guarida nos meios tradicionais de representação política e nos movimentos sociais organizados, tais como a grande mídia e o sistema político institucional.
Portanto, a mobilização feita por movimentos sociais, em seu aspecto harmônico e desarmônico, tem sido outra possibilidade diante da larga escala de notícias falsas divulgadas nas redes sociais virtuais. Além disso os movimentos sociais têm sido responsáveis, especialmente após o movimentado ano de 2013, por discutirem e realizarem formações em contrapelo a esse crescimento de discussão de pós-verdade, que tem tomado as redes de comunicação virtual. Por isso, a seguir apresentamos os resultados obtidos a partir das respostas dos questionários que aplicamos sobre Fakes News e seus impactos.
3.3. SISTEMATIZAÇÃO REFENTE AOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS
Visando o aprofundamento de nossa pesquisa, resolvemos aplicar através da plataforma Google Formulários questionários sobre os movimentos sociais virtuais e os impactos das Fakes News. Desse modo, disponibilizamos entre os dias 25 de outubro e 4 de novembro de 2021, por meio de nossas redes sociais particulares (whatsapp e instagram) os questionários, visando sobretudo atingir o maior número de respondentes possíveis acima de 18 anos de idade. Ao todo 42 pessoas responderam as interrogações, sendo a faixa-etárias delas as seguintes: 19 a 28 anos (28,6%), 29 a 40 anos (38,1%), 41 a 59 anos (28,6%) e 60 anos ou mais (4,8%).
Quanto ao perfil ou posicionamento político das(os) respondentes, obtivemos os seguintes percentuais: 66,7% consideram-se de esquerda, 16,7 de centro, 9,5% de direita e 7,1% de extrema direita. Ademais, cabe ressaltar, que devido ao próprio ciclo de relações pessoais e profissionais dos pesquisadores e da pesquisadora, a maioria das respostas foram de pessoas ligadas ao campo educacional.

Questionadas(os) sobre se creem na existência de Fake News, a grande maioria responderam que sim (92,9%) e apenas (7,1%) não. Ainda sobre esse ponto, 94,9% atribuem a internet como sendo o espaço de maior circulação de notícias falsas. Quanto aos meios que promovem a distribuição e disseminação destas, a maioria ou 71,8% apontaram com responsáveis youtubers, whatsap e influencers, 17,9% atribuem aos políticos e 10,3% a mídia oficial, como a televisão, jornais e revistas.
Outro ponto que chama a atenção é referente a checagem das notícias através de sites especializados que atuam no combate e no desmascaramento de informações falsas. Uma porcentagem de 73, 8% responderam que checam ao receber uma notícia para confirmar a veracidade. Porém, quando indagadas sobre os sites que conheciam a partir de uma lista contendo os principais e mais conhecidos no Brasil, apenas 47,6% assinalaram que conheciam um ou mais dos elencados nas opções.
O próprio contraste das informações podem ser percebida nas respostas seguintes. Por exemplo, ao serem questionadas(os) sobre como reagem ao receberem uma notícia falsa, obtivemos respostas diversas que contrastam os números expressos anteriormente no que tange a checagem. Vejamos: 59,5% responderam que pesquisavam em sites confiáveis e encaminhava a verdade para a pessoa que lhe enviou a informação, 21,4% dizem decidir conversar com a pessoa, para explicitar a verdade e 19% afirmam ignorar e/ou bloquear a pessoa.
Sobre os movimentos sociais e sua importância, 85,7% das pessoas responderam que o enxergava como sendo “pessoas que lutam por direitos humanos, causas ambientais e mudanças necessárias na sociedade”, 9,5% afirmaram “não ter opinião formada sobre o assunto” e 4,8% disseram que “eram pessoas desocupadas e com ideologias desnecessárias”. Quanto a validade dos movimentos sociais virtuais frente aos movimentos sociais tradicionais que expressam toda sua insatisfação diretamente nas ruas, 81,3% respaldaram e justificaram que “o movimento virtual fortalece o movimento que acontece nas ruas”, além disso, 18,8% disseram que “é uma maneira de militar”.

Cabe destacar que entre as 42 respostas obtidas, cerca de 61,9% afirmaram não ter participação ou atuação nos movimentos sociais. Quanto ao restante das(os) respondentes estão distribuídas(os) em diversas organizações e frentes de atuação, a saber: feminista (29,4%), educação popular (29,4%), Assistencialista/caridade (29,4%), Agroecologia (17,6%), LGBTQIA+ (11,8%), MST (11,8%), Negro (11,8%) e Juventude Rural (5,9%).
Por fim, a partir de uma questão aberta e mais livre para reflexão, inquirimos sobre como entendiam a o que é ser um(a) militante virtual? A seguir destacamos as principais respostas que julgamos mais abrangentes e aprofundadas do ponto de vista de nosso objetivo:
Resposta 1: Articulador de opiniões em massa, e por isso, precisa ter o cuidado redobrado ao expor seus argumentos, seja para contrapor um fake news, chamar pessoas para as ruas e etc. Porém, é extremamente importante para alcançar os não participantes de movimentos, pessoas que não possuem acesso a informação de qualidade (livros, universidades...)
Resposta 2: Uma pessoa que busca informar, articular e divulgar o que acontece no movimento que está inserido. Além disso, tem que ter princípios éticos e morais e compromissos sociais para não divulgar fake News.
Resposta 3: Possui sua relevância social em alcançar as grandes massas que não possuem acesso a uma informação/educação de qualidade e aos que não participam de movimentos/grupos sociais, mas partilham da mesma causa. Eles precisam tomar cuidado ao se expressar para não descredibilizar um movimento, ou passar uma informação errada para seus seguidores.
Resposta 4: Como alguém que tem a internet como a única forma possível para veicular seu ponto de vista, fazendo o então como meio de satisfação de sua personalidade.
Resposta 5: Alguém antenado com as notícias e alinhado com o objeto de militância. Pode ir às ruas também ou não. Novo modelo de sociedade na second life. A tarefa da militância é não deixar nenhum lado ganhar narrativa nas redes sociais sozinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção desta pesquisa ensejou muitos desafios, sobretudo no que tange ao preparo teórico sobre a temática. Todavia, julgamos que a partir deste, pudemos adentrar a uma discussão que recoloca o termo militância como problema, visando sua desnaturalização. Além disso, pudemos compreender um pouco das discussões teórico-metodológicas que envolvem o ativismo através das plataformas digitais, sobretudo refletindo sobre seus limites e possibilidades. Consideramos as redes sociais virtuais como um terreno movediço, que enseja cuidados, com isso, não estamos negando o potencial das redes virtuais de mobilizar, mas questionando, sobre seus limites e possibilidades diante de um mundo globalizado, que tende a homogeneizar as diferenças, encrustando nas pessoas uma sensação de estarem compartilhando das mesmas tecnologias de forma igualitária e equitativa. Diante disso, o questionamento de José Machado (2007, p. 270) é bastante pertinente, será que as “grandes redes de movimentos que se têm articulado pela web nos últimos tempos representam, de alguma forma, o futuro dos movimentos sociais e da ação coletiva?” Aproveitando o ensejo, também é importante nos questionarmos se a liberdade tão propalada que ocorre no espaço cibernético ainda é válida, uma vez que têm crescido o número de denúncias envolvendo interferências nos processos democráticos, sobretudo nas eleições em diversos países? Sem contar os inúmeros casos de perseguição e violência contra militantes e ativistas, que atuam na defesa de diversas causas, sobretudo as que se chocam diretamente com os interesses privatistas do mercado mundial. Que possamos refletir cada vez mais sobre as redes sociais e sua função social.
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, M. O que é um estudo de caso qualitativo em educação? Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, v. 22, n 40, p. 95 - 103, 2013.
Castells, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet (2ª ed.) [Versão Kindle]. Zahar, Rio de Janeiro, 2017.
Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. - 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GOHN, Maria da Gloria. 500 anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Revista Mediações, 5 (2000), 11-40.
GOHN, M. da G. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação. v. 16, n. 47, maio-ago, 2011.
Günther, H. (2003). Como Elaborar um Questionário (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, Nº 01). Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas/ Roberto Jany Richardson; colaboradores José Augusto de Souza Peres ... (et al.). - 3. ed. - 16. reimpr. - São Paulo: Atlas, 2015.
SALES, A. L. L. de F., FONTES, F. F. e YASUI, S. Para (Re)Colocar um Problema: A Militância em Questão. Trends in Psychology [online]. 2018, v. 26, n. 2 [Acessado 12 Outubro 2021], pp. 565-592. Disponível em: <https://doi.org/10.9788/TP2018.2-02Pt>. ISSN 2358-1883. https://doi.org/10.9788/TP2018.2-02Pt.
SILVA, A. O. DA. Internet e militância virtual. Revista Espaço Acadêmico, v. 3, n. 24, 3 mar. 2020.
SILVA, M. K. e RUSKOWSKI, B. de O. Condições e mecanismos do engajamento militante: um modelo de análise. Revista Brasileira de Ciência Política [online]. 2016, n. 21 [Acessado 12 Outubro 2021], pp. 187-226. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/0103-335220162106>. Epub Sep-Dec 2016. ISSN 2178-4884. https://doi.org/10.1590/0103-335220162106.
NOTAS FINAIS
[1] Graduada do Curso de Licenciatura em Educação Física Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Especialista em Educação Especial pela UNINASSAU, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades - PPGECI pela UFRPE/Fundaj, Participa do Grupo de Estudos em Educação Ambiental, Docência e Questões Contemporâneas (GEEADC) – raiohelena@gmail.com
[2] Licenciado em História pela Universidade Regional do Cariri - URCA e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades - PPGECI pela UFRPE/Fundaj. E-mail: ytalo.lima@urca.br
[3] Bacharel em Direito pela UNINASSAU e Especialista em Direitos da Criança e do Adolescente pela UFRPE geraldodeazevedonobrega@gmail.com
[4] Graduado no Curso de Licenciatura em Letras/Espanhol, na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades - PPGECI pela UFRPE/Fundaj. Membro do Conselho Latino Americano de Ciências Sociais - CLACSO. E-mail: romariogomesbarros@gmail.com
[5] S.F. Ação de capilarizar, ou seja, fazer com que algo seja melhor distribuído. (Dicionário Informal. Disponível em: https://www.dicionarioinformal.com.br/capilariza%C3%A7%C3%A3o/ .
[6] Não pretendemos com isso, nos deter de forma profunda sobre o que transcorreu nesse período, mas situar o percurso de apropriação das redes sociais pelos movimentos sociais, como instrumento de mobilização política e formativa.
[7] “O Scientific Electronic Library Online é um portal de revistas brasileiras que organiza e publica textos completos de revistas na Internet.”
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