Educação e cultura para além dos muros da escola
- linha1ppgeci
- 22 de set. de 2021
- 4 min de leitura
Pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) lançaram, no sábado 11 de setembro de 2021, o livro “Nós para Atar e Desatar - Relações entre Educação e Cultura”, no canal do Laboratório de Inovações Políticas em Práticas Educativas (Labutuca) do YouTube. O livro faz parte de um conjunto de publicações que resultaram da pesquisa nacional “A qualidade da educação e a elaboração de indicadores para subsidiar políticas de educação e cultura”, desenvolvida por meio de uma parceria entre as duas instituições.
A PESQUISA
A pesquisa desenvolvida resulta de parcerias e articulações interinstitucionais iniciadas em 2015, que além de Fundaj e UFPE também envolveram o Comitê Territorial de Educação Integral de Pernambuco/Escola Nacional dos Comitês de Educação Integral, vinculado ao Ministério da Educação (MEC), e o Ministério da Cultura.
A pesquisa realizada teve um caráter qualitativo, mas com a preocupação de abranger territórios culturalmente muito diversos, nos meios urbanos e rurais, nas cinco regiões territoriais brasileiras, buscando contemplar a diversidade das culturas populares existentes no país, e também contemplar a variedade de arranjos institucionais e modos organizacionais de criação e gestão de projetos educativos culturais, contemplando desde projetos desenvolvidos em escolas públicas, até experiências desenvolvidas por ONGs, movimentos sociais e coletivos culturais não institucionalizados.
Foi formada uma equipe de pesquisa interinstitucional e multidisciplinar, com pesquisadores de diversas formações e incluindo também mestres e ativistas das culturas populares. Os pesquisadores visitaram oito territórios distribuídos pelos Estados de Pernambuco, Pará, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Distrito Federal.
Em cada território, em cada projeto e experiência pesquisada, buscou-se fazer uma descrição profunda (Geertz) por meio de entrevistas individuais e coletivas e também em rodas de conversa, oficinas e seminários, observações de campo e registros audiovisuais que geraram um rico material com narrativas de experiências e projetos educativos centrados nas culturas populares. O ponto de partida dessas conversas foi a pergunta: a cultura educa? Como?
Em Pernambuco o estudo aconteceu nos municípios do Recife - investigando experiências de educação e ativismo cultural no bairro da Várzea (Movimento Salve o Casarão e Escola de Arte João Pernambuco); em Santa Maria da Boa Vista - em escolas do campo com vínculo junto aos movimentos sociais dos assentamentos da agricultura familiar e também em comunidade quilombola; e em Garanhuns, na Comunidade Quilombola de Castainho, junto à escola do campo e ao grupo de mulheres.
A LIVE
A live de lançamento contou com a participação dos autores - o professor Rui Mesquita, do Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação do Centro de Educação (CE) da UFPE, e Mauricio Antunes, pesquisador da Fundaj e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação, Culturas e Identidades (PPGECI-FUNDAJ/UFRPE) -, que dialogaram com os comentadores convidados -a professora Ana Emilia Castro, do Departamento de Design da UFPE e coordenadora do Núcleo de Educação Integral e Ações Afirmativas (Neafi); o professor Luiz Carlos Pinto, do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Indústria Criativas (PPGIC) da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); o professor Thiago Antunes, da Universidade Estadual do Maranhão e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE (PPGEdu); e o professor Wagner Lins Lira, do Departamento de Educação da UFRPE e também do PPGECI. A mediação ficou a cargo do doutorando Leandro Silva, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS-UFPE).
O LIVRO : Nós para atar e desatar: relações entre educação e cultura
O título do livro é uma (re)afirmação da interdependência entre cultura e educação, sugerindo que é necessário desatar certos “nós” que amarram essa relação de uma forma “pedagogizante”, com prejuízos para as culturas dissonantes da narrativa que busca homogeneizar uma cultura popular brasileira, geradora de uma identidade nacional brasileira, ambas homogeneizantes. Pois é justamente quando a educação se relaciona com essas culturas que podemos perceber e denunciar o dito caráter “pedagogizante” que tem marcado a relação entre educação e cultura no sistema educacional, e que daí se propaga, muitas vezes, para fora do sistema. Dizemos ser “pedagogizantes” as operações feitas por profissionais na tradução de conhecimentos originados em áreas exteriores (à pedagogia) em objetivos e práticas pedagógicas, medidas por temporalidades, metas, critérios e processos de avaliação próprios do fazer pedagógico. Esses são os nós que devemos desatar.
Assim, a narrativa assumida pelos autores busca explicitar os pressupostos teóricos, princípios, valores e lógicas organizativas presentes em diferentes projetos educativos vivenciados na intenção de trazer a(s) cultura(s) popular(es) para o centro do que chamamos de educação. Especial atenção foi dada aos conhecimentos e práticas culturais enraizadas em cosmovisões e ancestralidades indígenas e afrodiaspóricas, em outras temporalidades, outras espiritualidades, outras formas de viver e se relacionar com a natureza e com o outro e, ainda, outras formas de ensinar e de aprender. São experiências muito diferentes entre si, e essas diferenças foram ressaltadas na intenção clara de caminhar na contramão da homogeneização que é muito presente nas políticas públicas, especialmente quando se trata de políticas educacionais, onde proliferam as “medidas” de indicadores de avaliação e índices de qualidade.
Desta forma, a narrativa coloca em perspectiva possibilidades de aprofundar o debate sobre as contribuições que as culturas populares, que são potentes para provocar fissuras nos fundamentos da racionalidade técnica-científica hegemônica, podem trazer à Educação, ampliando e renovando o repertório de práticas educacionais, e incorporando movimentos sociais e outros atores coletivos, para somar forças com educadores e gestores comprometidos com a democratização das políticas públicas e com a necessária descolonização do pensamento educacional brasileiro. São estes os nós que devemos atar.
Informações e acesso ao livro
O livro não é comercializado. A distribuição da edição impressa será destinada à bibliotecas e salas de leitura, e a edição digital (PDF) está disponível pelo Instagram e Facebook @labutuca, ou ainda pelos seguintes endereços de correio eletrônico labutuca@gmail.com / mauricio.antunes@fundaj.gov.br / rui.mesquita@ufpe.br

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