top of page

A educação quilombola: em busca da autonomia.

No dia 6 de Setembro de 2017, após participar do Seminário Estadual Educação do Campo, Educação Indígena, Educação Quilombola: O que nos une na diversidade?, Nilton Gomes da Silva, biólogo, especialista em Educação Ambiental, e Zenildo José Barbosa, pedagogo, especialista em Educação Integral e Inclusão Social, alunos da disciplina Movimentos Sociais, Identidades e Cidadanias, Interculturais, do Mestrado em Educação Culturas e Identidades, entrevistaram representantes de comunidades Quilombolas do Estado de Pernambuco, explorando as questões sobre identidade, currículo  e território na Educação Quilombola.

Os pesquisadores buscavam compreender a relação da comunidade quilombola com a escola local, investigando as relações da comunidade com a instituição escolar, oficialmente vinculada aos municípios, a partir de um olhar sobre o currículo como elemento que, mesmo oficial, deve espelhar questões dos territórios e identidades dessas comunidades.

ree

Entrevista realizada na sede do Serta, Glória do Goitá, com representantes de comunidades quilombolas. (Foto Arquivo particular).


Os entrevistados foram  Maria Gorete Martins, da Comunidade de Chã dos Negros, localizada no município de Passira, e  Adalmir José da Silva, da Comunidade de Conceição das Crioulas do Município de Salgueiro, Pernambuco.


Chão dos Negros, segundo o depoimento de Maria Gorete, existe há mais de 200 anos, e todas as histórias e tradições são passadas de forma oral pelos anciãos e anciãs da comunidade. A origem desta comunidade, como acontece com outras comunidades negras, vem dos negros e negras que fugiram da escravidão e procuraram um território mais isolado, onde só havia matas e poucos moradores no entorno, para estabelecer a comunidade. Os anciãos que narram essas histórias da origem, também se referem a um tempo em que a comunidade era "protegida" Igreja Católica, na figura de um padre chamado Mateus José, da ordem dos jesuitas, que teria deixado como legado, após sua morte, a doação de um grande lote para os afrodescendentes que lá moravam.


Atualmente, Chão dos Negros é formada por mais de 150 famílias, que vivem da agricultura  familiar, em sua grande maioria, mas também contando com professores e outros funcionários públicos que são moradores de lá. Para Maria Gorete, a agricultura familiar faz parte das tradições locais e da afirmação da identidade quilombola, e estrutura as relações sociais que sustenta a cultura, como no caso do côco de roda.  


"É o que temos de mais precioso aqui e a nossa luta é para que possamos preservar e deixar para os mais novos a nossa tradição, especialmente o côco de roda,  tradição centenária da comunidade."

Em relação a territoridade ela afirma que embora o estado e o município de Passira reconheçam a comunidade Quilombola Chã dos Negros, a luta por espaço e melhoria da qualidade de vida da população é constante e o principal canal de luta está no movimento social organizado e na participação das ações no Estado. Para ela, as lutas e resistências dos quilombolas devem se direcionar para a transformação da escola, pois o currículo oficial proposto não atende as especificidades da comunidade quilombola, nem valoriza sua cultura, e a organização da educação estadual ainda é excludente para esta população.


Adalmir, que é um dos representantes quilombolas na Comissão Estadual que a Secretaria da Educação formou especialmente para tratar da Educação Quilombola, também concorda com essa visão, ressaltando que as comunidades quilombolas são pouco assistidas pelas políticas públicas em geral, e sobretudo pela política educacional.


Ele reconheceu que há um processo de construção da Educação Quilombola, que começa por uma preocupação com o currículo, mas ressalta que esse processo tem acontecido de fora (Estado) pra dentro (comunidade), e não de dentro pra fora, como desejam as comunidades. Essa seria a condição para que a Educação Quilombola pudesse estar discutindo as questões internas da comunidade, em que eles pudessem se reconhecer, pra estabelecer esse currículo e a partir dele fortalecer a identidade e as lutas do território.


Para Adalmir, o poder público tem tentado colocar a escola quilombola no mesmo bojo que se coloca as outras escolas do campo e da zona urbana. E segundo ele, sua população está no campo, mas não é do campo, por isso suas escolas precisam atender as necessidades da população quilombola e não do campo.


Os pesquisadores entendem que nos discursos dos entrevistados há pontos comuns, mas também dissonâncias, por exemplo, na relação que estes tem com a agricultura, onde vê-se que para a comunidade de Passira a relação com a agricultura é um dos elementos estruturantes das identidades, o que não se passa com a comunidade de Conceição das Crioulas, sempre segundo os entrevistados. E relacionam esses discursos com o contexto diferenciado de ambas as comunidades, considerando que Conceição das Crioulas tem escolas que atendem do ensino infantil ao ensino médio, com recursos estaduais e federal, fruto das lutas da comunidades que conseguiu colocar representantes locais na política municipal, e avançaram na discussão da relação entre educação, identidade e território, conquistando o direito de ter professores da própria comunidade nas escolas.


Comentarios


PPGECI - blog (1).jpg
Mestrado Educacao.png
Marcas_UFRPE-04-removebg-preview.png
Marca_Fundaj_2_-removebg-preview.png
bottom of page